sábado, 31 de março de 2012

Roteiro de Sol & Mar no Rio de Janeiro - Praia do Abricó

Entre o mar cristalino e a Mata Atlântica. Entre a deslumbrante Prainha e a intocada Grumari. Uma curta e estreita faixa de areia concentra liberdade, paz, privacidade e dedicação. Sem roupa alguma, naturistas colorem com seus corpos bronzeados a praia do Abricó, escondida em um sopé da Serra do Mar, no Recreio dos Bandeirantes. 
O local preserva traços de praia selvagem. Muito verde, pedras, vegetação nativa e um mar em tons de verde e azul compõem uma belíssima paisagem. A árvore que batizou a praia, o abricó-da-praia (Mimusops coriacea ou Labramia Bojeri), tem fruto comestível com proteína que combate as bactérias que causam cáries, faz uma ampla sombra e habita várias outras praias do litoral fluminense.
O objetivo do banho de sol ao natural é buscar maior integração com a natureza e respeitar o próximo por sua essência.
Muitos estudos atribuem à "nudez social" o poder de proporcionar vários benefícios físicos e mentais, ao liberar as pessoas das tensões internas causadas pelos tabus e restrições da sociedade contemporânea.
Recanto utilizado pelos cariocas para a prática do naturismo desde a década de 40, Abricó somente foi reconhecida em 1994 por Lei Municipal. Oficializada a partir de 1/10/2003, a Associação Naturista da Praia do Abricó (ANA) zela pelo cumprimento das normas nacionais e internacionais de naturismo definidas pela Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e pela INF (International Naturist Federation), respectivamente, e atua como uma espécie de guardiã do local, orientando os banhistas para terem uma conduta conveniente, comportamento harmonioso com o meio-ambiente, atendimento aos princípios éticos estabelecidos, e acima de tudo, desenvolve o naturismo como uma prática natural e despida de preconceitos. Atitudes inadequadas dos frequentadores, intimidades exageradas, fotografar sem autorização e usar drogas, entre outras, são atitudes não permitidas.
Mulheres, jovens, idosos e crianças praticam o naturismo em clima familiar, saudável, alegre, esportivo, sem bagunça ou transtornos.
Abricó é a única das oito praias oficiais de nudismo do Brasil a permitir a entrada de homens e mulheres desacompanhados. Em Olho de Boi, em Búzios (RJ), Barra Seca (ES), Massarandupió (BA), Tambaba (PA), Galheta, Pinho e Pedras (SC) é preciso ter companhia para acessá-las. "As mulheres se sentem envergonhadas pois tem muita cobrança sobre o próprio corpo. Ficam mais confortáveis em família. Os homens se sentem livres para virem sozinhos", é a avaliação da ANA sobre a estatística que indica 80% de frequência masculina desacompanhada na praia. "Adoro tudo isso aqui. Existe respeito, ninguém mexe com você. Vou dar um mergulho sem preocupação de afanarem os meus pertences", afirma uma assídua naturista.
A praia tem grandes formações rochosas sobre a areia que separam os banhistas nus dos vestidos. A natureza colocou uma cortina dividindo o mundo ortodoxo do mundo naturista.
Há um restaurante fincado na areia, o Cabana da Praia, especializado em frutos do mar, que serve aos clientes com cortesia. Casquinhas de siri, água de coco, peixe na brasa e bebidas variadas dão o toque de gastronomia.

terça-feira, 20 de março de 2012

Tatu-bola. O mascote da Copa de 2014 bate um bolão.

O inusitado tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) foi escolhido pela FIFA para ser o mascote da Copa de 2014. Ele concorreu com representativos bons símbolos, como a onça pintada, a arara, o jacaré e o Saci Pererê.
A vitoriosa proposta, idealizada pela Associação Caatinga, surgiu como idéia de aliar a preocupação e o compromisso ambiental ao maior evento esportivo do planeta, através do tatu-bola que tem no próprio nome a protagonista do futebol, além de ser 100% brasileiro e ter a capacidade de assumir a forma de uma bola quando se sente ameaçado.
A Associação Caatinga, ONG cearense que defende a valorização e a proteção da nossa biodiversidade, animada com a escolha, continuará empenhada para que a Copa do Mundo de 2014 deixe um importante legado ambiental, além de infraestrutura e mobilidade urbana.
É uma espécie que corre o risco de desaparecer na próxima década e para salvá-la da extinção são necessários esforços e investimentos na proteção das florestas da Caatinga e do Cerrado, seu habitat natural. O tatu-bola é um animal muito especial e peculiar que só existe aqui no Brasil, os poucos que restam podem ser encontrados no norte de Minas Gerais, nos estados do Nordeste e em algumas regiões do Centro-Oeste.
É assim chamado devido à habilidade de curvar-se sobre si mesmo, fechando-se dentro da carapaça, para se proteger quando ameaçado, ficando no formato de uma bola. Tem garras e dentes pequenos, em média 30cm de comprimento, não se entoca tão bem quanto os outros tatus mas o modo como se fecha é perfeito, hermético, não se consegue abri-lo. Para permitir esse movimento, a anatomia e a fisiologia dele são diferentes, inclusive a coluna e a estrutura óssea.
De hábito noturno e solitário, alimenta-se de formigas, cupins, aranhas e frutas. É fácil de ser caçado e durante muito tempo foi um recurso alimentar importante em meio à pobreza da Caatinga. A cada ninhada produz um, no máximo, dois filhotes. Isso contribui para a vulnerabilidade da espécie. É o tatu mais ameaçado do Brasil e a caça predatória já o fez desaparecer de muitos Estados, chegando a ser tido como extinto até os anos 90.
Uma espécie só nossa, de comportamento tão peculiar, vai abrilhantar a Copa, mostrando ao mundo a nossa rica natureza e o nosso compromisso com a biodiversidade, além de sensibilizar o povo brasileiro para a defesa e a proteção da nossa fauna e flora.
Esse gracioso animal é o mascote perfeito para a nossa Copa !

sexta-feira, 9 de março de 2012

Meninas Superpoderosas – O Século da Mulher Brasileira

Em 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher, adotado pela ONU em 1977. Foi um longo, longo caminho para fazerem-se valer. E como são valentes e valiosas !
Em 1900 a mulher brasileira não tinha direito a nada. Além disso, muito pior, era que nenhuma delas, ou quase, acreditava que algo poderia mudar em algum lugar no futuro.
A professora Leolinda Daltro e a escritora Gilka Machado fundaram em 1910 o Partido Republicano Feminino no Rio de Janeiro. O PRF organizava passeatas exigindo a extensão do voto às mulheres e teve o mérito inegável de lançar, no debate público, o pleito das mulheres pela ampla cidadania.
A zoóloga paulista Bertha Lutz em 1919 criou a Liga pela Emancipação da Mulher, embrião da poderosa Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922. A Federação teve papel fundamental na conquista do sufrágio feminino e, por extensão, na luta pelos direitos políticos da mulher, e destacou-se, também, como organização feminista com maior inserção nas esferas de poder da época. Suas militantes escreveram na imprensa, organizaram congressos, articularam com políticos, lançaram candidaturas, distribuíram panfletos em aviões, representaram o Brasil no exterior. Estas mulheres da elite brasileira encorajaram muitas outras a entrar na política.
Nada caiu do céu e tudo começou a se transformar quando Chiquinha Gonzaga, maestrina e compositora brilhante, largou o marido para viver da música e Nair de Tefé, a primeira caricaturista brasileira, dedilhou ao piano do Palácio do Catete, onde vivia com o marido-presidente Hermes da Fonseca, o maxixe Corta Jaca, da própria Chiquinha. Foi um escândalo e o governo foi acusado pela elite de divulgar músicas de origem vulgar.
A carioca Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi a primeira “chorona”, primeira pianista de choro, autora da primeira marchinha carnavalesca (Ô Abre Alas, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.
Nascida em Petrópolis (RJ), Nair de Tefé, além de caricaturista foi também cantora, pianista, atriz e primeira-dama do Brasil de 1913 a 1914. Sua paixão por música popular reunia amigos para recitais de modinhas, promovia saraus e organizava recitais no Palácio do Governo. Sua amiga Chiquinha Gonzaga era habituée nesses eventos. Levar para a sede do Governo a música popular foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos. Rui Barbosa chegou a tecer fortes críticas a Nair.
O século XX foi de grandes conquistas, avanços científicos notáveis e realizações aparentemente inalcançáveis. Mas foi também o século da mini-saia, do biquini e do tailleur, ou seja, as mulheres colocaram o feminismo no topo.
Desafiaram o sistema e enfrentaram a discriminação de leis como o Código Civil de 1916 que passou por reformas, tendo sido suprimidas expressões discriminatórias sobre a mulher. Uma vitória e tanto, naquela época.
Na Constituição de 1934, veio a grande conquista das brasileiras. O direito ao voto garantido a todas as mulheres, já reconhecido pelo Código Eleitoral de 1933. Na constituinte de 1934 houve uma representante do sexo feminino, a primeira deputada do Brasil, Carlota Pereira de Queirós (à1892 †1982), paulista, foi médica, escritora e pedagoga.
O advento da pílula anticoncepcional em 1960 representou o símbolo da liberação sexual.
Em 1962 com o Estatuto da Mulher, ela passou a existir juridicamente sem a tutela do marido.
Na Constituição de 1988, o homem não é mais citado como chefe da família, as uniões estáveis são reconhecidas, assim como filhos nascidos fora do casamento.
Chiquinha Gonzaga (à1847 †1935) e Nair de Tefé (à1886 †1981) foram as destemidas pioneiras, as heroínas com causa.
Antes delas, Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto (à1810 †1885), educadora, escritora e poetisa, foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços público e privado, publicando textos em jornais, na época em que a imprensa brasileira ainda engatinhava. Nascida em Papari, atual Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, também dirigiu um colégio para moças no Rio de Janeiro e escreveu livros em defesa dos direitos das mulheres, dos índios e dos escravos. Viúva, levou a filha doente para Paris, onde morou a maior parte do tempos. Em 1853, publicou Opúsculo Humanitário, uma coleção de artigos sobre emancipação feminina, que foi merecedor de uma apreciação favorável de Auguste Comte, pai do positivismo.

Conheça a seguir outras mulheres que com seus estilos de vida, realizações profissionais, idéias e atitudes contribuíram para a independência feminina.

Aracy Cortes (à1904 †1985), nasceu no Rio de Janeiro e na adolescência foi vizinha de Pixinguinha. Com apresentações nos teatros de revista, que reuniam a nata do meio artístico, projetou-se como a primeira grande cantora popular, destacando-se em ambiente quase exclusivamente de vozes masculinas da época. Foi dela também a primeira audição da música Aquarela do Brasil de Ary Barroso.   
Dercy Gonçalves (à1905 †2008), fluminense do interior do Estado, foi atriz, humorista e cantora, atuou no teatro de revista, notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 50 e 60. Na televisão, chegou a ser uma das atrizes mais bem pagas, estrelando programas na TV Excelsior, TV Rio, TV Globo e SBT. Foi reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial (86 anos).
Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e uso constante de palavrões, foi uma das maiores expoentes e precursoras do teatro de improviso no Brasil. Na infância muito humilde foi perseguida por sua origem negra, dizia “Aprendi como as galinhas, ciscando. O que não me fazia sofrer eu achava bom. Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida”.
Mara Rúbia (à1919 †1991), nome artístico de Osmarina Lameira Colares Cintra, paraense da Ilha de Marajó, consagrou-se como vedete no teatro de revista durante os anos de 40 e 50. A partir de 1950 foi contratada da TV Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde comandava um programa exclusivo na emissora carioca. Seu alto salário na televisão era motivo de polêmica e de inveja. Como bailarina e atriz de cinema participou de vários filmes, entre eles Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976.
Tônia Carrero (à1922), nome artístico de Maria Antonieta Portocarrero Thedim, carioca, graduada em educação física, com formação de atriz obtida em cursos em Paris. Atuou em marcantes interpretações no teatro, cinema e TV. Nos anos 50 e 60 revolucionou a cena do teatro brasileiro ao constituir um repertório com peças de autores clássicos, como Shakespeare e Carlo Goldoni, e de vanguarda, como Sartre.
Norma Benguell (à1935), carioca, é uma atriz, cineasta, produtora, cantora e compositora. Foi a primeira atriz brasileira a apresentar-se em uma cena de nu frontal, no filme Os Cafajestes, de1962. Ela estreou no cinema em 1959 e logo chamou a atenção pela sua sensualidade. Participou de passeatas contra a ditadura militar e não escondia suas convicções políticas. Em 2010 sua foto foi utilizada na campanha eleitoral pela pré-candidata do PT à Presidência da República, a ex-ministra Dilma Rousseff. Tal atitude provocou polêmicas, inclusive a acusação do uso indevido da imagem e associação da atriz. No entanto, Norma Bengell desmentiu ter descontentamento e manifestou simpatia e apoio à pré-candidata.
Leila Diniz (à1945 †1972), nasceu em Niterói (RJ), foi professora e atriz de teatro, cinema e TV. Quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o país, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquini na praia, irritou feministas tradicionais ao amamentar a filha Janaína diante das câmeras e chocou o país inteiro ao falar de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento, em entrevistas marcantes. “Transo de manhã, de tarde e de noite”, disse certa vez. Considerada uma mulher à frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções. “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo”, confessou em entrevista histórica ao jornal O Pasquim, o que provocou, a partir de então, a censura prévia dos militares à imprensa. Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de 60 e 70. Leila Diniz, A Mulher de Ipanema, defensora do amor livre e do prazer sexual, é sempre lembrada como símbolo da revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas idéias e atitudes. Morreu em acidente aéreo, aos 27 anos, no auge da fama.