domingo, 30 de outubro de 2011

Praia - por que gostamos tanto?!


Nos domingos de sol no verão de 2012, as praias do Rio de Janeiro recebem mais de 1 milhão de pessoas. É uma multidão superior a toda a população carioca do início do século XX, quando as ruas tinham iluminação à gás, Copacabana era uma vila de pescadores e ir à praia era um programa exótico. Literalmente, coisa de índios e de escravos. Naquela época as casas eram construídas com os fundos para o mar pois o oceano era visto apenas como depósito de rejeitos.

Por muito tempo o banho de sol foi evitado por deixar a pele bronzeada, parecida com a dos trabalhadores braçais e bem diferente do branco europeu, adotado como padrão de beleza. As mulheres só pisavam na areia para buscar a cura de doenças.


Em 1917 o nobre alcaide da cidade determinou que os banhistas deveriam usar trajes adequados, guardando a necessária decência e compostura, sendo expressamente proibido falar alto. E a frequência à praia era autorizada somente até às 10h, de segunda à sábado, e até às 11h, no domingo e feriado. Parece que o prefeito já sabia que o sol da tarde é prejudicial à pele, podendo provocar câncer. 

 
A fantástica transformação de hábitos que elevou a praia ao posto de lazer predileto da maioria da populaçao brasileira dura mais de um século...e a mudança não pára. A cada verão surgem novidades (leia o post “Malhar, melhor, molhar. Orla, praia, mar.).

Os hábitos começaram a mudar sob a influência externa. Os franceses passaram a frequentar a Côte d'Azur, nós construímos o Copacabana Palace. Os americanos surfavam na Califórnia, nós deslizávamos em pranchões de madeira, mar adentro e ondas afora. Aos poucos cresceu a sensação de que ir à praia era chique.

Veja no quadro a seguir a chegada dos principais modismos e costumes na areia.

Sunga masculina
Biquini
Bronzea
dor
Sutiã cortininha
Calcinha asa-delta
Protetor solar
Fio dental
Aluguel cadeira
Piercing
1940
1957
1960
1970
1984
1984
1985
1996
2000


E por que a praia tem tanta atratividade ? Vamos à praia fazer o que, para que e por que ?

Parece haver muitos e muitos motivos. Os cariocas vão para ler, entrar na água, tomar sol, se exibir, bater papo, azarar, fofocar, comer, beber, fumar, dançar, se divertir, praticar algum esporte, brincar com os filhos pequenos. Em que outro lugar dá para fazer isso tudo ao mesmo tempo e ainda em trajes bem à vontade ?

Praia também é lugar para dar vazão a criatividade. O frescobol, único esporte do mundo em que não tem vencedor, surgiu em 1946 no Rio de Janeiro, no Posto 2 (Leme), inventado por um fabricante de móveis de piscina, entediado com a falta do que fazer na praia.


Ao longo dos anos o que mais mudou foi o traje feminino. Em Copacabana, no início dos anos 20, o maiô substituiu o blusão de sarja com calção franzido nos joelhos (o bloomer). Veio então, o maiô com transparência na barriga e depois o engana-mamãe: maiô na frente, duas peças atrás. Ao chegar da França na década de 50, o biquini causou escândalo. A revista mais popular da época, O Cruzeiro, criticou a imoralidade perguntando: "O que mostrarão agora as mulheres que desejarem se exibir ? A radiografia ?". Em seguida foi a vez da calcinha asa-delta, baseada na mania das cariocas de amarrar a alça do sutiã na calcinha. Logo depois, veio o mundialmente famoso fio dental, em estilos diversos.  

Um sociólogo espanhol, assíduo em praias como Ibiza, diz que estar na praia representa a fuga da rotina, a quebra do vínculo com as regras rígidas do comportamento diário, a sensação de liberdade, atração ao apelo sensual e sexual dos corpos quase nus, a participação nesta cumplicidade coletiva.

Seja como for, poucas coisas na vida são tão alegres e agradáveis quanto uma bela praia.    

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